Justiça volta a suspender obra na BR-319 por risco de desmatamento na Amazônia

BR-319, a rodovia que corta a Amazônia (Dnit)

Decisão do TRF-1 atende recurso de ambientalistas e impõe novo freio à obra defendida por políticos da região. Dados indicam aumento de 122% no desmatamento nas áreas próximas à rodovia.

MANAUS — A Justiça Federal voltou a suspender a licença ambiental da BR-319, rodovia que liga Autazes (AM) a Porto Velho (RO). A decisão partiu da 6ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), que atendeu a um recurso do Observatório do Clima (OC). O grupo apontou falhas graves no licenciamento feito pelo Ibama em 2022, durante o governo Jair Bolsonaro.

Com isso, a Justiça restabeleceu a liminar da juíza Mara Elisa Andrade, da 7ª Vara Ambiental do Amazonas. Ela já havia interrompido a obra ao identificar riscos de danos irreversíveis à floresta.

Segundo a magistrada, a pavimentação da BR-319 estimula o desmatamento e facilita ocupações ilegais em uma das regiões mais preservadas do país.

Obra aumenta pressão sobre a floresta

O Observatório do Clima alertou que a expectativa pela obra já provocou efeitos negativos. Entre eles, um aumento de 122% no desmatamento nas áreas próximas à rodovia. Além disso, surgiram novos ramais clandestinos, que intensificam a ocupação irregular da floresta.

Ambientalistas e técnicos apontam que a estrada pode comprometer áreas de floresta primária, unidades de conservação e terras indígenas. Por isso, defendem uma análise rigorosa antes de qualquer avanço.

Governo e especialistas divergem sobre a BR-319

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva considera a estrada importante para a integração da Amazônia. Parte do governo e do Congresso vê a BR-319 como uma rota estratégica para conectar o Norte ao restante do país.

Por outro lado, especialistas alertam que benefícios econômicos não justificam os riscos ambientais. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, também reforça a necessidade de critérios técnicos. Ela tem defendido mais estudos e planejamento antes de qualquer decisão definitiva.

“Não somos contra a BR-319. Somos contra fazer sem responsabilidade ambiental”, afirmou um técnico do Ministério do Meio Ambiente.

Licença do Ibama gera controvérsia

O Ibama concedeu a licença em 2022, sob a gestão Bolsonaro. O processo, porém, enfrenta críticas por ignorar estudos de impacto cumulativo e falhar na consulta a comunidades tradicionais. Ambientalistas também acusam o governo anterior de pressionar técnicos para acelerar o licenciamento.

O TRF-1 entendeu que essas falhas comprometem a legalidade da obra. Por isso, a pavimentação segue suspensa.

Desdobramentos

A decisão não encerra o caso, mas impõe um novo freio. O governo pode recorrer, mas precisará apresentar argumentos técnicos sólidos. Enquanto isso, a pavimentação da BR-319 continua travada, sem prazo para retomada.

Entenda o caso
  • A BR-319 conecta Manaus a Porto Velho e corta áreas de floresta preservada.

  • O Ibama liberou a pavimentação em 2022, mas o licenciamento enfrentou críticas.

  • O TRF-1 suspendeu novamente a obra após recurso do Observatório do Clima.

  • Dados mostram aumento de 122% no desmatamento nas áreas próximas à estrada.

  • O governo federal defende a rodovia, mas especialistas pedem cautela.