Lira cita ‘ameaças’ e pede à PF escolta para deputado que denunciou suposto elo de agentes públicos do AM com facções

MANAUS, 16/12/22 VEREADOR AMOM MANDEL (CIDADANIA) DISCURSANDO NO PLENARIO DA CAMARA MUNICIPAL DE MANAUS. FOTO: ROBERVALDO ROCHA / CMM
Amom Mandel (Cidadania) diz ter sido alvo de ‘intimidações’ após relatar à PF possível relação de integrantes da Secretaria de Segurança Pública do AM com o crime organizado.

Manaus – Am: O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), solicitou à Polícia Federal nesta terça-feira (16) escolta policial para o deputado Amom Mandel (Cidadania-AM) em compromissos do parlamentar no Amazonas.

Em ofício encaminhado à Superintendência Regional da PF no Amazonas, Lira afirma que a medida é necessária uma vez que há relatos de que Amom tem sido “constante alvo de crimes de ameaça e constrangimentos ilegais”.

“À vista da gravidade dos ilícitos e da necessidade de assegurar o livre exercício do mandato parlamentar, solicito a Vossa Senhoria a adoção de todas as medidas necessárias a garantir a segurança do congressista”, diz Lira no documento encaminhado ao delegado da PF Celso Antônio Vieira Paiva Junior.

Em comunicado à imprensa, Amom diz ser alvo de “intimidações” desde que fez uma denúncia à Polícia Federal sobre suposto envolvimento de integrantes da Segurança Pública do Amazonas com organizações criminosas.

GloboNews teve acesso ao depoimento de Amom à Polícia Federal. Aos investigadores, no dia 5 de janeiro, o deputado afirmou ter recebido um relatório de inteligência do Amazonas, que associava “diretamente” integrantes da “alta cúpula” das secretarias de Segurança Pública e de Administração Penitenciária, e da Polícia Militar a organizações criminosas e ao tráfico de drogas.

Amom Mandel declarou ter encaminhado os documentos à PF e que, após o envio, foi alvo de movimentos de desinformação nas redes sociais e de uma “abordagem truculenta” da PM amazonense.

Em nota enviada à GloboNews, a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas classificou as afirmações de Amom Mandel como “narrativa” que “não corresponde à realidade dos fatos”. Disse ainda que o parlamentar foi alvo de “abordagem policial rotineira”.

“No momento da abordagem o deputado estava em um veículo importado, dirigido pela sua companheira, e que trafegava com as luzes apagadas, vidros com insulfilme 100%, trocando de faixa de forma desordenada, o que chamou a atenção da guarnição policial que patrulhava a área”, diz trecho do comunicado da secretaria.

“A condutora ignorou diversos avisos emitidos pela viatura policial para que encostasse, levando alguns minutos até que abordagem fosse realizada. Ao descer do veículo o deputado passou a questionar o motivo de ter sido abordado pela PM e deu voz de prisão à guarnição, se utilizando das prerrogativas do cargo público que ocupa para desrespeitar, humilhar e constrangendo os agentes”, completa a nota.

O órgão também declarou que o deputado foi “tratado com cordialidade” durante o procedimento policial, que é aplicado da mesma forma “a qualquer cidadão”.

Procurada pela reportagem, a PF afirmou que investiga as denúncias e que não dará mais detalhes sobre o procedimento em curso.

Pedidos a Lira e a Flávio Dino

 

Em 10 de janeiro, dias após o depoimento à PF, Amom enviou ofícios nos quais pede providências a Lira e ao ministro da Justiça, Flávio Dino.

No documento encaminhado a Dino, o deputado afirmou que o relatório revela um “grave cenário” na segurança pública do Amazonas. Ele pede ao ministro que a pasta atue para “garantir a integridade e eficácia das instituições de segurança pública no estado”.

“As evidências de corrupção, manipulação do sistema e conluio com facções criminosas por parte de agentes da mais alta cúpula da segurança estadual demanda atenção e providências”, disse.

Ao pedir escolta policial ao presidente da Câmara, Amom Mandel afirmou que as denúncias feitas por ele “apontam uma ampla atuação criminosa de ocupantes de cargos estratégicos, detentores de acesso privilegiado a informações, que estariam sendo usadas, de maneira deliberada, para privilegiar facções criminosas”.

O deputado avaliou que a denúncia fez com que ele sofresse uma série de ataques e a uma “crescente pressão desencadeada por uma milícia digital de blogs e portais jornalísticos”.

“Resta evidente que essa iniciativa difamatória decorre de figuras que teriam interesses prejudicados devido à minha denúncia, tendo como estratégia minar minha credibilidade através desses meios de comunicação”, afirmou.