Arquivos obtidos pela Polícia Federal (PF) a partir do aparelho smartphone do tenente-coronel Mauro Cid revelam que o militar, apesar da proximidade com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), expressava preferência pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em uma eventual disputa presidencial contra a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro em 2026.
Os diálogos, extraídos do smartphone apreendido em 3 de maio de 2023, mostram que Cid, que atuava como ajudante de ordens de Bolsonaro, mantinha uma relação marcada por desconfiança e tensões com Michelle. Em mensagens trocadas com o coronel Marcelo Câmara, designado para acompanhar Bolsonaro em uma viagem aos Estados Unidos (EUA) em dezembro de 2022, o militar chegou a ironizar a ex-primeira-dama. Em uma das conversas, Michelle acusou Cid de vazar informações contra ela para a imprensa, em tom de desconfiança mútua.

Em outro trecho das mensagens, em 27 de janeiro de 2023, o ex-secretário de Comunicação de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, informou a Cid sobre a possibilidade de o Partido Liberal (PL) lançar Michelle como candidata ao Planalto, caso Bolsonaro se tornasse inelegível. A resposta de Cid foi direta: “Prefiro o Lula”.

A partir desse ponto, as críticas de Cid a Michelle se tornaram mais evidentes. Em áudios trocados com Wajngarten, o militar afirmou que a ex-primeira-dama enfrentaria grandes dificuldades em uma candidatura de alto nível, alegando que ela possuía “muitos pontos fracos” que poderiam ser explorados pelos adversários. “Se dona Michelle tentar entrar pra política, num cargo alto, ela vai ser destruída”, declarou Cid.

Wajngarten, ao ser questionado sobre os diálogos, afirmou que, na época, “jamais se imaginou a ex-primeira-dama como candidata” e que as mensagens trocadas com Cid eram apenas análises sobre notícias publicadas na imprensa.
Os trechos revelam que, apesar da confiança depositada por Bolsonaro em Cid, o militar mantinha uma postura crítica em relação ao círculo próximo do ex-presidente e, em especial, à ex-primeira-dama. O conteúdo reforça a percepção de que, mesmo entre aliados próximos, havia tensões e divisões.