A cardiologista Ludhmila Hajjar, que recusou hoje o convite para ser ministra da Saúde, acredita que a o Brasil pode dobrar o número de mortos por covid-19 caso o governo de Jair Bolsonaro não mude o foco sobre a pandemia. “Um cenário sombrio com 500 mil, 600 mil mortes, com sequelas e consequências à longo prazo que não estejam sendo pensadas”, disse a médica à GloboNews.
Ludhmila disse que chegou esperançosa para conversas com o presidente, mas que não houve uma mudança do posicionamento dele. A médica, cardiologista em São Paulo, teria se reunido na tarde de ontem com o presidente, o ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Ludhmila, que tem 43 anos, considera que não houve um boicote do presidente à sua linha de pensamento, mas que ambas são conflitantes. “A preocupação é o impacto econômico da pandemia, o impacto social da pandemia”, disse, em entrevista.
A especialista chamou de “assustador” os ataques que recebeu de parte da base bolsonarista – que incluíram vazamento de dados, intimidações à sua família. A médica disse que deixou 70 pacientes internados em São Paulo para as conversas na capital federal.
Em um dos casos por ela relatados, três pessoas tentaram entrar no hotel onde ela estava hospedada e acessar seu quarto, se passando por membros de sua equipe médica. A segurança do hotel barrou a investida dos indivíduos, que acabaram por não ser identificados pela médica.
O presidente teria ciência destas ameaças, indicou a cardiologista. Questionada sobre qual teria sido sua reação, Bolsonaro teria dito que “faz parte”, e que ele mesmo recebe ameaças do tipo.
Ludhmila Hajjar agradeceu a chance de poder estar com o presidente, sendo cotada à vaga de Pazuello no Ministério da Saúde. “Reitero minha honra de ter meu nome pensado, e tenho que respeitar a autonomia do chefe da nação, que esteja aliado com as ideias e a visão do governo”, disse. “E eu certamente não sou esta pessoa.”