
Platôbr
Deputado saiu dos holofotes depois de deixar o cargo de presidente da Câmara e, agora, estuda os cenários para seu futuro político
“Não tenho visto.”
“Vi dia desses no cafezinho.”
“Deve estar no novo gabinete dele, lá no fundo, onde ninguém vai.”
Do Congresso o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) anda sumido. Antigos aliados nas negociações que sempre ocorriam intramuros, preferencialmente na residência oficial, dizem que agora raramente o veem. Vizinhos do supergabinete que o deputado montou no primeiro andar do prédio principal dizem que ainda não encontraram o novo inquilino.
O espaço passou por uma ampla reforma, recebeu móveis assinados e painéis com traços de Oscar Niemeyer que definiram a capital. Mas movimento de políticos só se viu em uma ocasião até o momento: quando o Palácio do Planalto organizou um encontro com prefeitos eleitos e reeleitos nas últimas eleições. Nesse dia, o marasmo foi quebrado na porta de Arthur Lira. Houve uma verdadeira romaria.
Vista para a torre Eiffel
Lira não tem dado as caras na planície do plenário, agora sob o comando de Hugo Mota (Republicanos-PB). Também não tem participado dos debates públicos. Na verdade, nunca foi do seu feitio entrar nas guerras argumentativas que se travam nos microfones. Por ser ex-presidente da casa, não tem mais a obrigação de votar ou registrar a presença quando se tem ordem do dia. Os demais deputados têm descontos no salários quando faltam e não justificam.
Na terça, Lira deu um tempo no sumiço e surpreendeu parlamentares ao aparecer no espaço do cafezinho, anexo ao plenário. Conversou com um grupo de colegas deputados. Um aqui, outro ali, ficou cerca de meia hora e foi embora. Às vésperas do Carnaval, viajou na companhia das filhas e da mulher para Paris e se hospedou em um endereço com vista para a Torre Eiffel.
Sumiço motivado
O mergulho do ex-presidente da Câmara tem motivo. Interessado em se candidatar ao Senado em 2026, Lira precisa reforçar suas bases em Alagoas. Nesse contexto, ele tem enfrentado alguns revezes. Um deles é a perda de prefeituras no estado e o crescimento do MDB, liderado localmente pelo seu arquiinimigo Renan Calheiros (MDB-AL).
Nas últimas eleições, o MDB passou de 37 prefeituras para 65 em Alagoas. Já o PP de Lira, que tinha 29, desceu para 27. Depois das eleições, o MDB ainda recebeu mais 3 prefeitos do PP que deixaram a legenda e se filiaram ao MDB. O MDB passou a ter 68 prefeitos contra 24 do PP. Isso, claro, conta na montagem dos palanques na eleição.
Entre dois caminhos
Quando voltar de Paris, Lira terá que optar entre dois caminhos: ficar com o governo ou seguir construindo seu futuro político no campo da oposição. Lula já disse a interlocutores que poderia dar a ele uma pasta, ou mesmo nomear outro indicado para a Esplanada.
O PP já controla várias diretorias na Caixa Econômica Federal. Lira, por sua vez, garante que desconhece a oferta. “Me convidam e me desconvidam pela imprensa o tempo todo”, ele tem dito.
Outro caminho a seguir seria a formação de uma federação partidária com o objetivo de montar uma bancada forte, de direita, no Congresso, que poderia dar muito trabalho ao Planalto. Seu aliado, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) disse ao PlatôBR que está disposto a articular para Lira a presidência da possível federação a ser formada com o União Brasil, de Davi Alcolumbre, e que tenta atrair ainda o Republicanos, de Hugo Motta.
“Seria uma federação conservadora. Lira se retrair agora é natural, ele deve esperar um pouco. Mas formando essa federação vou indicá-lo para presidir”, disse Ciro Nogueira.
Empurrão para a direita
O senador acredita que o único caminho para o amigo alagoano é pela direita. Ele tem aconselhado Lira nesse sentido. “Lira só tem chance de se eleger dessa forma, na minha opinião. Se observarmos a distribuição de votos em Alagoas, no litoral e na capital, Jair Bolsonaro ganhou. Então, esse é um cenário muito positivo para que ele construa sua candidatura ao Senado”, observou o senador, ex-chefe da Casa Civil de Bolsonaro.
Ao retornar da temporada parisiense, Lira terá que, enfim, decidir seu caminho.