‘Operador’ de José Melo multiplica faturamento

Manaus – A Aliança Serviços de Edificações e Transportes Ltda. que doou R$ 600 mil, via comitê estadual, para a campanha eleitoral de reeleição do governador do Amazonas, José Melo (PROS), multiplicou por dez o faturamento anual na Secretaria de Estado de Educação (Seduc). A empresa é do empresário Francisco Sampaio Neves, o Chaguinha, que também foi tesoureiro do PROS, e é considerado pela Polícia Federal (PF) o operador de um esquema de corrupção para eleger Melo, descoberto na operação Quintessência. Desde 2010, já recebeu R$ 180.843.071,30.

A Aliança aparece nos documentos do processo, com movimentações bancárias como fonte de milhões de reais repassados aos policiais militares envolvidos no esquema. A empresa, que em 2010 recebeu R$ 4.357.520,18 da Seduc, passou a ser uma das maiores a receber recursos do Estado, a partir de 2013 (R$ 39.235.048,88), chegando ao auge dos recebimentos em 2014, ano da reeleição de Melo (R$ 43.097.722,01), valor que praticamente foi repetido em 2015 (R$ 43.144.676,25).  Em 2016, foram R$ 39.486.573,67. E, neste ano de 2017, a empresa empenhou R$ 31.025.724,51 e já recebeu R$ 16.733.659,85.

De acordo com relatório do delegado federal Franco Perazzoni, ‘Chaguinha’ utilizou a empresa Aliança para financiar esquema de compra de votos. “Chaguinha também é tesoureiro do  PROS, cujo presidente  regional é o  governador José Melo. Durante o período interceptado, Chaguinha fez articulações políticas com diversos alvos como Paraná (ex-vereador em Manacapuru Anderson José Rasori), Coronel Frota (ex-comandante da Polícia Militar do Amazonas Marcus Frota), Coronel Berilo (Berilo Bernandino de Oliveira), Dr. Tancredo (Tancredo Castro Soares), inclusive de mostra bem próximo do governador José Melo. Por seu turno, o Dr. Tancredo se mostrou bastante próximo de Chaguinha nas questões relacionadas à empresa e às lideranças no apoio á reeleição do governador José Melo, articulando com outras alvos desta operação”, cita o relatório.

Em outro trecho, o documento narra  a participação da alta cúpula da Polícia Militar (PM) atuando na escolta de dinheiro usado para compra de voto. O relatório cita apuração relacionada a coronel da PM Berilo. Segundo o delegado, o militar participou em esquema de uso indevido de servidores da Polícia Militar para dar apoio ao núcleo financeiro responsável por apoiar a corrupção eleitoral por meio das empresas Aliança e a Distral Serviços de Edificações e Transportes Ltda.

“Em 6 de novembro, o coronel Berilo teria mantido contato com subordinado e determinado que fosse realizada a escolta de dinheiro o qual teria sido sacado no Banco Bradesco, Agência do bairro Compensa, em Manaus. Referido numerário, sem seguida, foi transportado até o município de Manacapuru. O contexto dos acontecimentos, dada a preocupação com a segurança, efetuado sob escolta policial e, solicitação de sigilo da reunião, permitiria o entendimento de que o dinheiro seria utilizado para pagamento de despesas eleitorais (…) Posteriormente o curso das investigações verificou-se que os referidos valores haviam sido sacados da conta da empresa Aliança Serviços de Edificações e Transportes, através do sócio Francisco Sampaio Neves (Chaguinha). No curso das investigações, logrou-se que referida empresa foi utilizada para financiamento da campanha do candidato José Melo”, consta no relatório.

O assunto já foi tema de uma reportagem da revista Veja, publicada em junho do ano passado, sob o título “O enredo de uma bandalha eleitoral”, assinada pelo repórter Leslie Leitão e narra o uso da máquina pública e poder econômico para garantir a reeleição do governador José Melo.

De acordo com a reportagem da Veja, Chaguinha foi flagrado em vídeo, por dois dias consecutivos, sacando dinheiro vivo. “Quantia, aliás, nada desprezível: R$ 350 mil. Um detalhe que não deve passar incólume é que toda a escolta dessa transação financeira que nada tinha a ver com os assuntos do governo foi encomendada à tropa estadual por um dos coordenadores da campanha, o coronel Berilo de Oliveira. “Ponha uma viatura em frente ao bando para proteger uns valores que eu não quero transportar sem apoio’, ordena a um tenente”, cita a reportagem.

Ainda segundo a reportagem, entre os coronéis identificados praticando achaques e subornos contra eleitores do adversário na eleição de 2014, o senador Eduardo Braga (PMDB), o mais citado é o do coronel James Frota. “Em uma gravação, um sargento garante a Frota: ‘Tiramos todas as placas ontem do Eduardo da cidade’. E  outra, é Frota quem dá ordem para que um PM intercepte um barco com cabos eleitorais da oposição: ‘Se bloquear aí, ele só chega lá em Tefé depois da eleição’. Missão cumprida. Ao saber da bem-sucedida apreensão, de dois caminhões que levavam eleitores de Eduardo Braga, Frota tripudia: ‘Joga tudo dentro d´água, esse bando de filhos duma égua’”, consta na reportagem da revista Veja.