PF identifica movimentações financeiras suspeitas de assessores de ministros do STJ

Fachada do Tribunal Superior de Justiça (STJ) - Foto/Reprodução

Brasília — A Polícia Federal (PF) identificou movimentações financeiras suspeitas envolvendo três ex-assessores de ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ). As descobertas, reveladas em documentos sigilosos obtidos pela Folha de S.Paulo, apontam “discrepâncias significativas” entre as informações declaradas à Receita Federal e as transações bancárias efetivamente realizadas.

Os servidores são investigados sob a suspeita de envolvimento em um esquema de venda de decisões judiciais e vazamento de informações sigilosas — prática que, se confirmada, representa grave ameaça à integridade do sistema judiciário brasileiro.

Entre os alvos da investigação está Daimler Alberto de Campos, ex-chefe de gabinete da ministra Isabel Gallotti. Outro investigado é Rodrigo Falcão de Oliveira Andrade, que liderou o gabinete do ministro Og Fernandes. Já o terceiro, Márcio José Toledo Pinto, atuava no gabinete da ministra Nancy Andrighi na época dos fatos, tendo também passado pela equipe de Gallotti.

Vínculos suspeitos e movimentações atípicas

Segundo a Polícia Federal, há evidências robustas de que os investigados apresentaram um padrão de movimentações financeiras incompatíveis com os rendimentos declarados. Além disso, no caso de Toledo, a investigação aponta alterações e exclusões de minutas internas de processos em questão de minutos, supostamente para dificultar o rastreamento por outros servidores.

Procuradas, as defesas de Daimler e Márcio Toledo afirmaram que prestarão esclarecimentos apenas nos autos. A defesa de Rodrigo Falcão, por sua vez, não se manifestou até o momento.

Enquanto isso, os inquéritos que apuram as suspeitas de venda de decisões judiciais e tráfico de influência seguem sob a supervisão do ministro Cristiano Zanin, no Supremo Tribunal Federal (STF).

Vale destacar que, de acordo com a investigação, os ministros mencionados não são alvos do inquérito.

O elo com o lobista

As investigações também miram o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, apontado como peça central do esquema, atuando como intermediário nas negociações.

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Em diálogos interceptados pela PF, Andreson cita Daimler ao comentar sobre supostas cobranças financeiras feitas pelo então chefe de gabinete. No entanto, até agora, os investigadores não encontraram conversas diretas entre ambos.

Rodrigo Falcão é acusado de ter vazado informações estratégicas sobre a Operação Faroeste, que investiga a venda de sentenças no Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA).

Já Márcio Toledo está na mira por manipular documentos internos do STJ, prática considerada gravíssima e que pode configurar obstrução de justiça.

Relação de confiança questionada

Em relatório recente, elaborado após a análise de dados extraídos de celulares dos investigados, a Polícia Federal destacou a existência de um “vínculo de profunda confiança” entre Rodrigo Falcão e o ministro Og Fernandes.

O delegado responsável pelo caso frisou que Falcão atuava como uma espécie de “ajudante de ordens”, com participação direta em atividades profissionais e pessoais do ministro — desde a organização de documentos até o pagamento de contas.

A PF ressaltou ainda que Rodrigo detinha acesso a dados bancários, fiscais e financeiros do ministro e de sua esposa, o que, segundo a corporação, evidencia um grau de intimidade que “transcende os limites da formalidade profissional”.

Ministros não comentam

Por meio de nota, as ministras Isabel Gallotti e Nancy Andrighi afirmaram que não comentam fatos relacionados a terceiros investigados pelo STF. O ministro Og Fernandes não respondeu aos contatos da reportagem.

Conforme documentos oficiais do STJ, o cargo de chefe de gabinete possui um escopo amplo, incluindo funções como o assessoramento direto aos ministros, a coordenação de agendas e até a realização de tarefas delegadas de forma pessoal.

Seguem as investigações

O caso, que já provoca repercussões nos bastidores do Judiciário e da política nacional, segue em andamento. A expectativa é que, nas próximas semanas, novas diligências sejam realizadas para esclarecer a extensão das supostas irregularidades e as eventuais responsabilidades criminais dos envolvidos.