PF revela que “Abin paralela” pode ter espionado homônimo de Alexandre de Moraes por engano

Ministro Alexandre de Moraes passou por cirurgia no tendão e participou de sessão sobre tentativa de golpe utilizando uma tipoia — Foto: Rosinei Coutinho/STF

Brasília – A Polícia Federal (PF) concluiu que a chamada “Abin paralela”, estruturada durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), pode ter monitorado por engano um homônimo do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), utilizando o sistema clandestino de rastreamento First Mile.

De acordo com o relatório final da investigação, o agente Thiago Quinalia teria inserido no sistema o nome Alexandre de Moraes Soares, residente em São Paulo — o mesmo estado natal do verdadeiro ministro —, o que levanta a suspeita de que os alvos foram confundidos.

“Não há justificativas registradas para a pesquisa em nome de ‘Alexandre de Moraes Soares’, o que indica a possibilidade de erro na tentativa de localização do magistrado, relator do inquérito das fake news”, diz trecho do documento.

O relatório também aponta que a consulta no sistema foi feita quatro dias após um avanço processual no inquérito 4781, instaurado em março de 2019, com relatoria de Moraes, reforçando a hipótese de motivação política e perseguição institucional.

Monitoramento ilegal, estrutura clandestina e tentativa de ruptura democrática

Ainda segundo a PF, as investigações revelam a existência de uma estrutura paralela de inteligência dentro da Abin, formada por policiais federais cedidos e oficiais do órgão, que teriam agido sob comando dos altos gestores da agência para fins ilegais e políticos, com o objetivo de garantir a permanência de Bolsonaro no poder — mesmo que isso implicasse em romper com o Estado Democrático de Direito.

“A organização criminosa que se estruturou na Abin durante o governo anterior possui alta potencialidade ofensiva”, afirma a PF, destacando o uso recorrente de recursos públicos, tecnológicos e humanos de forma clandestina e fora do escopo institucional.

Além disso, o agente Thiago Quinalia, apontado como responsável pela pesquisa, teria sido designado em 2024 para atuar como auxiliar de adido na França. No entanto, ele não retornou ao Brasil em abril, como previsto, e hoje é considerado desaparecido pelas autoridades.

Homem monitorado pela Abin não tinha qualquer ligação com o Judiciário

O suposto “alvo” da espionagem, o Alexandre de Moraes Soares monitorado, não possui qualquer vínculo com o STF. Segundo a PF, ele trabalha como gerente em um estabelecimento comercial e não exerce atividades no sistema Judiciário, o que comprova o erro de alvo ou, no mínimo, a negligência nas operações da chamada Abin paralela.

Abin paralela pode ter monitorado o Alexandre de Moraes errado, diz Polícia Federal — Foto: Reprodução/Relatório da PF
Implicações políticas e jurídicas

A investigação reforça o cerco judicial contra figuras do governo Bolsonaro, especialmente após a revelação do uso indevido de mecanismos de Estado para fins de vigilância e intimidação de autoridades públicas. A PF afirma que a rede era cuidadosamente protegida por hierarquias internas e narrativas de legalidade, que buscavam camuflar o verdadeiro escopo das ações.