PMs são alvos de operação contra milícia especializada em pontos de mototáxi

Quatro policiais da ativa foram presos e dois ainda são procurados

Rio – Uma operação do Ministério Público do Rio (MPRJ) nesta quinta-feira cumpre mandados de busca e apreensão e de prisão contra 14 policiais militares e outras oito pessoas que integram uma milícia que atua na comunidade Asa Branca, em Jacarepaguá, na Zona Oeste da cidade. Eles são investigados pela prática dos crimes de organização criminosa, corrupção ativa e passiva, e concussão. Os mandados são cumpridos, inclusive, em cinco batalhões da PM.
Às 8h, quatro policiais da ativa já haviam sido presos. Eles foram conduzidos para o Batalhão de Neves, em São Gonçalo. Outros dois agentes são procurados.
Até o momento foram presos:
Jorge Henrique da Silva (vulgo ‘Dô’, 2º sargento, lotado no 22º BPM)
Adelmo da Silva Guerini Fernandes (também 2º sargento, mas no 21º BPM)
Nielsen da Silva Barbosa (3º sargento)
Leonardo de Oliveira Pelussi (cabo)
Ao todo são seis mandados de prisão preventiva e 23 de busca e apreensão. A operação Gogue Magogue foi deflagrada por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO/RJ), com apoio da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI/MPRJ), da Corregedoria-Geral da Polícia Militar (Pmerj) e de técnicos da Anatel.
Também são cumpridos mandado de busca e apreensão em um imóvel supostamente utilizado como central clandestina de TV a cabo, atividade explorada pelos criminosos, popularmente conhecida como “gatonet“.
Os mandados de prisão e de busca e apreensão são contra Jorge Henrique da Silva (vulgo ‘Dô’, 2º sargento, lotado no 22º BPM) e Adelmo da Silva Guerini Fernandes (também 2º sargento, mas no 21º BPM), apontados como líderes do organização criminosa. Jorge Henrique da Silva foi preso no batalhão. Já, Adelmo, foi preso em seu condomínio, na Zona Oeste do Rio.
Os outros alvos são Nielsen da Silva Barbosa (3º sargento); Francisco Santos de Melo (subtenente); Leonardo de Oliveira Pelussi (cabo) e Marcos Paulo Custodio Alves (2º sargento). Os quatro são lotados no 18º BPM, em Jacarepaguá. Destes, Nielsen e Leonardo foram presos. Marcos e Francisco são procurados.

Além deles, outros oito policiais militares, à época lotados no 18º BPM, são alvos de mandados de busca e apreensão, por terem sido flagrados em conversas suspeitas com integrantes da organização criminosa. Dessa forma, na operação desta quinta foram realizadas ações de busca e apreensão nos 5º, 14º, 18º, 21º e 22º Batalhões, além da 1ª UPP – Santa Marta.

Nessa mesma operação, são cumpridos ainda oito mandados de busca e apreensão contra oito civis denunciados por participação na organização criminosa: Moisés Ubiratan Lopes Peres; Luís César Lima Napoli (vulgo ‘PC’); Antônio Marcos Santos Silva (‘Marquinho’, atualmente foragido da Justiça); Marilena Nascimento Faria; Carlos Renato Nascimento Faria (‘Renatinho’); Cristiano Pereira Gomes; Ygor Rodrigues Santos da Cruz e Kleber Farias de Oliveira Carneiro, responsáveis por atividades como ‘gerenciamento’ dos pontos de mototáxi, repasse de propinas aos policiais dos 18º e 31º Batalhões e emissão de ‘alertas’ sobre operações policiais na região, além de toda a manutenção técnica e cobrança pelos serviços clandestinos de tv a cabo, internet e comercialização de cigarros ilegais.

Segundo o MPRJ, o grupo é responsável pela prática de diversos crimes na comunidade Asa Branca, tais como a exploração e comercialização de sinais clandestinos de televisão a cabo e a venda de cigarros ilegais, mas atua principalmente na exploração ilícita de pontos de mototáxi. A investigação aponta que os PMs recebem propinas para fornecerem informações privilegiadas sobre operações policiais na região, bem como para garantir a livre circulação dos mototaxistas do bando nas áreas de fiscalização do 18º BPM (Jacarepaguá) e 31º BPM (Recreio dos Bandeirantes), fazendo vista grossa para as irregularidades de trânsito eventualmente praticadas pelos mototaxistas.

Quando abordados pela polícia, os mototaxistas fazem contato com membros da milícia e são liberados. Segundo o MP-RJ, os próprios policiais militares presentes na operação assumem a ligação para confirmarem diretamente com o comparsa se o mototaxista detido é, de fato, parceiro do grupo criminoso. A organização uitliza-se de violência e ameaça contra aqueles que, de alguma forma, atrapalham seus interesses, diz o Ministério Público. Telefonemas interceptados revelam que os mototaxistas que deixavam de pagar as taxas impostas pelos milicianos eram sumariamente banidos da região, ameaçados, agredidos fisicamente, ou tinham suas motocicletas arbitrariamente “confiscadas”.

A denúncia apresentada pelo MP-RJ aponta ainda a existência de indícios da prática de invasão de propriedade, grilagem de terras, exploração sexual de menores e lesões corporais contra membros da própria organização criminosa que cometessem erros ou desobedecessem a ordens de superiores. O grupo, por diversas vezes, empregou armas de fogo em sua atuação, bem como contou com funcionários públicos, mais especificamente policiais militares, que se aproveitaram desta condição para viabilizar as práticas criminosas do bando.

Os mandados da operação desta quinta-feira foram expedidos pela Auditoria de Justiça Militar do Estado do Rio de Janeiro, no caso dos policiais militares, e pela 1ª Vara Criminal Especializada da Comarca da Capital, no caso dos denunciados civis.