STF Interroga Bolsonaro em Ação que Investiga Tentativa de Golpe de Estado: Ex-presidente nega acusações e ironiza Moraes

Bolsonaro durante interrogatório na 1ª Turma do STF sobre trama golpista — Foto: Ton Molina/STF

Brasília (DF) – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi interrogado na tarde desta terça-feira (10) pelo ministro Alexandre de Moraes, no âmbito da ação penal que apura uma suposta trama golpista para manter o ex-mandatário no poder após sua derrota nas eleições de 2022.

A oitiva marca um dos momentos mais aguardados do processo, que mira o “núcleo duro” da organização criminosa investigada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por planejar um golpe de Estado. Além de Bolsonaro, outros sete ex-integrantes do alto escalão do governo e das Forças Armadas também são réus na ação.

Mais cedo, foram ouvidos o almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha; o ex-ministro da Justiça Anderson Torres; e o general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional. Às 14h30, Bolsonaro começou a ser interrogado.

Clima tenso e provocações: Bolsonaro ironiza Moraes com “convite” para 2026

Apesar da seriedade do caso, o ex-presidente iniciou sua fala com um comentário jocoso. Em meio ao interrogatório, Bolsonaro convidou Moraes, em tom de piada, para ser seu vice-presidente em uma eventual chapa em 2026. O ministro, porém, respondeu com frieza: “Declino”.

O momento causou risos na sala de audiência, inclusive do próprio Moraes, mas logo o foco retornou para os fatos investigados.

Negativas, críticas ao TSE e nova defesa do voto impresso

Durante o depoimento, Bolsonaro reafirmou que sempre defendeu o voto impresso auditável, tema central de sua retórica contra o sistema eleitoral brasileiro. Ele afirmou que a defesa começou ainda quando atuava como deputado federal e citou, como exemplo, uma fala antiga do atual ministro do STF Flávio Dino, na qual, segundo ele, o magistrado também questionava a segurança das urnas eletrônicas em 2010.

Além disso, Bolsonaro voltou a acusar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de tolher sua liberdade de expressão durante a campanha presidencial de 2022. Segundo ele, o tribunal impediu a divulgação de conteúdos negativos sobre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e também bloqueou a promoção de ações positivas de seu próprio governo.

Pedido de desculpas e recuo sobre críticas a ministros

Questionado sobre a reunião ministerial de julho de 2022, em que criticou duramente os ministros Moraes e Luís Roberto Barroso, Bolsonaro afirmou que não tinha intenção de fazer acusações diretas e pediu desculpas.

“Era uma reunião privada, sem gravação. Usei uma retórica do momento, um desabafo. Se fossem outros ministros, teria dito o mesmo. Me desculpe, não quis acusar nenhum dos três de conduta indevida”, declarou.

Minuta do golpe: Bolsonaro nega ter “enxugado” documento

Outro ponto abordado foi a minuta golpista encontrada com o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente. Cid afirmou em depoimento que Bolsonaro teria revisado o documento, mantendo apenas a ordem de prisão de Moraes. No entanto, o ex-presidente negou a acusação de forma taxativa:

“Não procede o enxugamento da minuta”, garantiu.

Defesa política e apelo à legalidade

Ao longo da oitiva, Bolsonaro também fez questão de destacar realizações de seu governo, além de relembrar sua carreira política iniciada como vereador no Rio de Janeiro. Ele voltou a utilizar uma de suas frases mais repetidas:

“Sempre atuei dentro das quatro linhas da Constituição.”

O que está em jogo: STF entra na reta final da apuração sobre golpe

Com os depoimentos dos réus mais relevantes — entre eles Bolsonaro — o STF avança para a reta final da fase de instrução processual, em que são reunidas provas e versões das defesas. Em seguida, o caso pode seguir para diligências, antes da apresentação das alegações finais e do julgamento definitivo pela Primeira Turma do Supremo.

Além de Bolsonaro, integram o grupo investigado:

  1. Mauro Cid

  2. Alexandre Ramagem

  3. Almir Garnier

  4. Anderson Torres

  5. Augusto Heleno

  6. Paulo Sérgio Nogueira

  7. Walter Braga Netto

Os crimes atribuídos ao grupo incluem:

  • Abolição violenta do Estado Democrático de Direito

  • Tentativa de golpe de Estado

  • Organização criminosa

  • Dano qualificado ao patrimônio da União

  • Deterioração de patrimônio público tombado