TBT: Empresário Waldery Areosa acusado de pagar por programas com menores, denúncia do Fantástico em 2014

Matéria do Fantástico de 30/03/2014

Quase uma década depois, a sociedade amazonense não sabe a decisão da justiça pra essa gravíssima denuncia

Meninas aliciadas para participar de esquema moram em bairros pobres de Manaus. Elas foram seduzidas para essa vida e receberam instruções bem detalhadas dos agenciadores para se transformar em garotas de programa.

Com funcionava o esquema

A partir desse depoimento, da denúncia do Ministério Público e de gravações em áudio e vídeo, o Fantástico mostra como funcionava esse esquema que atendia políticos e empresários da capital do Amazonas.

Agenciadora: Onde você está?

Menina: No curso. Aqui no supletivo.

Babado significa programa.

Agenciadora: Sai desse curso. Bora para o babado.

Menina: Não dá, não. Quanto?

Agenciadora: R$ 500, mana.

Meninada: Tá. Vem me buscar aqui.

Um convite mudou a vida da jovem que começou a se prostituir com 14 anos. “Estava em frente de casa e chegou uma mulher, perguntando se eu queria vender roupa com ela, sutiã, essas coisas”, ela conta.

A estranha virou amiga da adolescente: “Eu via que ela oferecia meninas, que ela conhecia gente de alta sociedade. Ela perguntou se eu queria experimentar. Eu experimentei com 14 anos. Na primeira vez, eu ganhei R$ 1,5 mil”, lembra.

A operação que investigou essa rede de prostituição foi chamada de Estocolmo – uma referência à síndrome de Estocolmo, quando as vítimas criam vínculos emocionais com os próprios algozes.

Meninas seduzidas

As meninas que foram aliciadas para participar desse esquema moram em bairros pobres de Manaus. Elas foram envolvidas, seduzidas para essa vida e começaram a se prostituir. Receberam uma espécie de treinamento, instruções bem detalhadas dos agenciadores para se transformar em garotas de programa.

Agenciadora: O que você vai falar para sua mãe?

Menina: Vou ver uma história aqui.

Agenciadora: Diz que vai fazer um curso de trabalho.

Festas, viagens, em passeios de barco ou mesmo dentro de carros. Depois que o programa sexual é acertado, os agenciadores falam com a menina.

Agenciadora: Já fez a chapinha?

Menina: Ainda não.

Agenciadora: Bota uma bermudinha, uma roupinha, uma sandalinha, que eu estou passando na sua casa em 15 minutos.

Janaína Ribeiro é outra acusada de promover encontros sexuais com menores. Segundo o Ministério Público, o principal cliente dela era Waldery Areosa Ferreira, empresário da área de educação, ex-dono de um centro universitário de Manaus e proprietário de um hotel flutuante.

A agenciadora chama o empresário de “Wal”.

Janaína: O Wal chegou.

Menina: Sério?

Janaína: Chegou. Tinha que ser você e mais outra. Sabe que ele gosta de duas.

Menina: É…

Segundo as investigações, um dos encontros de Waldery foi com uma adolescente de 16 anos. A cafetina Janaína explicou como ela deveria se comportar: “Vai bem bonitinha, patricinha, que ele gosta de menininha”.

Outra recomendação: chegar na hora combinada: “Ele é pontual. Hoje é sexta. A mulher dele está em casa. Ele tem hora para chegar em casa, entendeu? Vai ser no escritório dele”.

De acordo com as investigações, a adolescente ganhou R$ 700 e Janaína, R$ 400.

O Fantástico procurou o advogado da agenciadora, mas ele não retornou as ligações.

Waldery também é acusado de ter relação sexual com a menina de 13 anos. Lembrando: foi a mãe dessa garota que fez a denúncia que deu origem às investigações.

Segundo essa adolescente, o empresário pagou R$ 700, deu joias para ela e chegou a oferecer um carro.

A jovem que o Fantástico localizou e que fez parte dessa rede de prostituição afirma: “Waldery só gosta de menina de 12 anos. Todo mundo sabe. Menina nova”.

Repórter: Você chegou a se encontrar com quem desses empresários daqui da cidade?

Menina: Ah, não vou falar nome, não. Mas foi muita gente de alta sociedade.

Repórter: E eles pagavam bem?

Menina: Muito. A gente saía das festas, ia direto para o motel.

A polícia comprovou que o empresário Waldery marcou outro encontro.

Imagens mostram mais uma adolescente chegando ao prédio onde ficava o escritório de Waldery. Essa tinha 14 anos.

Em depoimento, a jovem disse que recebeu um celular e mais R$ 200. E que a relação sexual naquele dia não foi com o empresário, e sim com o filho dele. Waldery Júnior, 38 anos, é sócio de uma das escolas particulares mais caras de Manaus.

Waldery Pai e Waldery Filho não quiseram gravar entrevista. O advogado disse que “a inocência deles será provada durante a instrução processual e vai culminar com a completa absolvição” dos dois.