Conflitos com a polícia, manifestações em várias cidades e tensão crescente entre Trump e líderes locais marcam momento crítico da política migratória americana.
Los Angeles amanheceu sob um rígido toque de recolher nesta quarta-feira (11), enquanto os Estados Unidos enfrentam uma nova onda de protestos contra as operações anti-imigração do governo Trump. A escalada das manifestações, que teve início na última sexta-feira, já se espalhou por importantes centros urbanos como Nova York, Atlanta e Chicago — e promete se intensificar nos próximos dias.
A prefeita de Los Angeles, Karen Bass, declarou que o toque de recolher permanecerá “enquanto for necessário” para conter possíveis atos violentos, embora tenha ressaltado sua disposição em dialogar diretamente com o presidente Donald Trump.
Enquanto isso, manifestantes ocuparam as ruas de diversas cidades. Em Chicago, grupos subiram na famosa escultura de Picasso na Daley Plaza, entoando gritos pela abolição do ICE (Serviço de Imigração e Alfândega), acusado de promover batidas arbitrárias contra imigrantes em situação irregular. Conflitos diretos com a polícia também ocorreram em Austin, no Texas, onde agentes usaram gás lacrimogêneo para dispersar a multidão.
O governador do Texas, Greg Abbott, já anunciou o envio da Guarda Nacional e prometeu usar “todas as ferramentas disponíveis para manter a ordem”, antecipando-se a manifestações previstas para esta quarta e também para o sábado. No sul do estado, movimentos sociais planejam protestos em frente a unidades do ICE, com o apoio de entidades locais e cobertura nacional.
Envio de Tropas Agrava Crise em Los Angeles
A tensão entre a administração federal e autoridades estaduais atingiu novo patamar com o envio, ordenado por Trump, de milhares de militares a Los Angeles. Mais de 700 fuzileiros navais foram deslocados para uma base em Seal Beach, enquanto 4 mil membros da Guarda Nacional já atuam na proteção de edifícios governamentais — embora, até o momento, não tenham sido empregados em patrulhamento urbano.
Gavin Newsom, governador da Califórnia, criticou duramente a decisão de Trump, classificando-a como “inflamatória” e responsável por desencadear uma nova onda de violência. “Trump dobrou a aposta ao enviar a Guarda Nacional. Isso atiça as chamas do caos. Foi uma escolha deliberada”, declarou Newsom, em pronunciamento na noite de terça-feira.
Apesar de a maioria dos protestos permanecer pacífica, saques e vandalismo obrigaram a prefeitura de Los Angeles a adotar medidas emergenciais. Ao menos 23 estabelecimentos comerciais foram saqueados e mais de 220 pessoas já foram detidas.
Trump vs. Newsom: Conflito Ganha Escopo Nacional
O embate entre Donald Trump e Gavin Newsom vem alimentando um intenso debate nacional sobre o uso das Forças Armadas em solo americano. Enquanto o governo federal defende a intervenção como medida de segurança, o estado da Califórnia já entrou com uma ação judicial para bloquear o envio das tropas, acusando a Casa Branca de abuso de poder.
Trump, por sua vez, usou discurso em base militar para justificar as ações, afirmando que sua administração irá “libertar Los Angeles” da violência e da “ilegalidade do Terceiro Mundo”. O presidente também criticou manifestantes que agitavam bandeiras estrangeiras — especialmente do México — durante os protestos, afirmando que isso representa um “ataque à soberania nacional”.
“Heróis americanos não lutaram em guerras no exterior para ver nosso país ser destruído por invasões e ilegalidades internas”, declarou.
O presidente também ameaçou invocar a controversa Lei da Insurreição, que permite o uso das Forças Armadas para reprimir distúrbios civis. Embora o atual envio de tropas esteja baseado no Título 10 do Código dos EUA, a simples menção à Lei sinaliza uma possível escalada no conflito institucional.
Imigração no Centro da Tempestade
Cerca de 300 imigrantes já foram detidos desde o início das operações do ICE, segundo números divulgados pelo próprio órgão. A política de deportações em massa tem sido o pilar central do segundo mandato de Trump, que prometeu intensificar ações contra a imigração ilegal.
Newsom, no entanto, acusa o governo de usar os imigrantes como “bodes expiatórios” políticos, gerando trauma em comunidades inteiras em nome de um discurso populista e divisivo. “Essas não são políticas de segurança. São ataques diretos à dignidade humana”, disse o governador.
Liberdade e Democracia em Jogo
Ao concluir sua fala, Gavin Newsom fez um alerta contundente sobre o que está em jogo: “A Califórnia pode ser a primeira, mas não será a última. A democracia está sob ataque. E isso diz respeito a todos nós.” Ele também incentivou os cidadãos a protestarem de forma pacífica, advertindo que qualquer violência seria responsabilizada com o rigor da lei.
A crise atual revela não apenas a crescente polarização política nos Estados Unidos, mas também um possível ponto de inflexão no debate sobre direitos civis, uso da força militar e liberdade de manifestação. À medida que o cenário evolui, cresce também o interesse internacional pelo desfecho desse embate que, mais do que local, tornou-se um reflexo dramático do momento político americano.
