
Los Angeles, California — As primeiras tropas da Guarda Nacional começaram a desembarcar neste domingo (8) em Los Angeles, atendendo a uma ordem direta do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em meio à escalada de protestos contra operações de imigração conduzidas pelo ICE (Imigração e Alfândega). A mobilização envolve 2 mil soldados e foi anunciada no sábado (7), mesmo diante da resistência explícita do governador da Califórnia, Gavin Newsom.
De acordo com imagens divulgadas nas primeiras horas da manhã, os militares foram vistos reunidos no complexo federal localizado no centro da cidade — o mesmo onde ocorreram confrontos intensos entre manifestantes e autoridades nas últimas 48 horas.
Decisão unilateral acirra disputa entre Trump e Newsom
A medida aprofunda o embate entre governo federal e administração estadual, já que, legalmente, a Guarda Nacional é uma força sob duplo comando — estadual e federal. Newsom classificou a ação como “deliberadamente provocativa”, alegando que a presença militar apenas intensificaria os ânimos e colocaria civis em risco.
Trump, por outro lado, justificou a federalização como necessária para “restaurar a ordem” e “combater a ilegalidade crescente” nos protestos contra políticas de deportação.
Base legal e lacunas jurídicas
Embora não tenha invocado formalmente a Lei de Insurreição de 1807, Trump utilizou um dispositivo semelhante que permite a federalização da Guarda Nacional em situações específicas. No entanto, especialistas apontam que essa legislação exige cooperação dos governadores estaduais, o que não ocorreu neste caso.
Segundo o professor de Direito e especialista em justiça militar, Steve Vladeck, da Universidade de Georgetown, a atuação das tropas pode gerar problemas legais sérios:
“Sem respaldo da Lei de Insurreição, essas tropas tecnicamente não podem exercer funções de policiamento. Isso eleva o risco de uso indevido da força sob o pretexto de proteção.”
Ainda segundo Vladeck, a atuação da Guarda neste contexto pode abrir caminho para uma escalada mais agressiva de militarização nas ruas — algo que já ocorreu em episódios anteriores do governo Trump.
Histórico de mobilização militar em protestos civis
A utilização da Guarda Nacional em contextos civis tem precedentes marcantes na história dos EUA. Em 1992, o presidente George H. W. Bush a acionou para conter os protestos em Los Angeles após a absolvição dos policiais envolvidos na violenta abordagem contra Rodney King. Já nos anos 1950, Dwight Eisenhower enviou tropas para garantir o acesso de estudantes negros às escolas segregadas do sul.

Entretanto, diferentemente dessas ocasiões, a ação de Trump ocorre sem consenso com o governo estadual, o que torna o episódio ainda mais controverso.
O que esperar nas próximas horas
O secretário de Defesa nomeado por Trump, Pete Hegseth, publicou neste domingo na rede X (antigo Twitter) que fuzileiros navais em Camp Pendleton estão em “alerta máximo” e poderão ser mobilizados caso os protestos persistam ou evoluam para atos de violência.
Além disso, assessores do ex-presidente indicam que mais ações podem ser adotadas nos próximos dias, especialmente em estados com governadores alinhados a políticas mais rígidas de imigração.
Projeções políticas
A decisão de federalizar tropas em solo californiano, sem respaldo do governador, pode redefinir o debate sobre limites constitucionais entre os poderes federal e estadual. Ao mesmo tempo, reacende discussões sobre o uso da força militar contra manifestações civis — tema altamente sensível no contexto eleitoral de 2025.