BP – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (9) que irá aumentar as tarifas sobre a China para 125% e pausar as tarifas recíprocas sobre todos os outros países. A tarifa global de 10%, na qual o Brasil está inserido, será mantida.
México e Canadá, que escaparam das tarifas recíprocas de Trump, serão incluídos na tarifa base universal de 10% que estará em vigor durante a pausa, segundo o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent.
As mudanças foram anunciadas pelo presidente na sua plataforma Truth Social. Os mercados, que operam em alta volatilidade na última semana, já reagiram aos novos anúncios. No Brasil, o dólar reverteu os ganhos passou a apresentar forte queda.
Bessent, no entanto, negou que a pausa esteja relacionada com as reações recentes do mercado. É “por causa de um grande número de contatos. Mais de 75 países nos procuraram, e imagino que, após hoje, haverá mais. Então, é apenas um problema de processamento”, disse após o anúncio de Trump. “Cada uma dessas soluções será personalizada. Vai levar algum tempo, e o presidente Trump quer estar pessoalmente envolvido, por isso estamos tendo a pausa.”
Antes do recuo de Trump, as negociações com outros países já vinham sendo divulgadas pelo governo americano, com destaque para conversas com líderes da Coreia do Sul e do Japão. Bessent disse que os EUA querem negociar de “boa fé” com parceiros comerciais e que aqueles que não retaliaram contra as chamadas tarifas do dia da libertação de Trump seriam recompensados.
Ele acrescentou que a abordagem de Trump em relação às tarifas foi uma estratégia de negociação desde o início e que a administração espera que os parceiros comerciais “venham com sua melhor oferta”.
As chamadas tarifas recíprocas, agora suspensas, entraram em vigor nesta quarta-feira (9), afetando dezenas de países. É uma tentativa do republicano de forçar a retomada da industrialização americana, com a volta de fábricas e empregos ao país, uma estratégia criticada por especialistas.
As alíquotas foram anunciadas por Donald Trump na semana passada, em 2 de abril, data que ele batizou de “Dia da Libertação”, que consistiu num tarifaço a todas as nações. O pacote inclui um imposto extra de 10% a bens do Brasil —que entrou em vigor no sábado (5). As tarifas mais elevadas dos EUA foram aplicadas à União Europeia e a outros 56 países, incluindo a China.
O modo como as tarifas foram calculadas, com base no déficit comercial registrado pelos EUA com o país e o valor exportado por esse país para o mercado americano, foi criticado e gerou distorções. Lesoto, no sul da África, passaria a ser alvo de taxas de 50%, apesar de o país estar entre os mais pobres do mundo. O Camboja pagaria 49%, e a União Europeia, 20%.
ESCALADA DA GUERRA COMERCIAL COM A CHINA
A elevação das tarifas americanas sobre produtos chineses para 125% é o mais recente capítulo de uma guerra comercial que se intensificou na última semana. Os chineses foram afetados, inicialmente, com uma tarifa recíproca de 34% anunciada no dia 2 de abril. Somada a outras taxas vigentes, o anúncio elevou o total de tarifas para 54%.
Em retaliação, no dia 4 de abril, a China anunciou tarifa de 34% sobre produtos americanos, restrição a exportações de sete terras raras e sanções contra quase 30 empresas dos EUA. Nos dias 7 e 8 de abril, nesta semana, Trump ameaçou e cumpriu uma nova elevação e, nesta quarta (9), começou a valer uma tarifa adicional de 50% sobre a China. Assim, a tarifa total sobre produtos chineses ficou em 104%.
A resposta da China não demorou a chegar. Também nesta quarta, o Ministério das Finanças chinês impôs uma nova taxa de 84% sobre bens dos EUA em resposta à taxa de 104%. A nova elevação das tarifas dos EUA, para 125%, é uma resposta a esta última retaliação da China.
LEIA O TEXTO DE TRUMP NA ÍNTEGRA
“Com base na falta de respeito que a China tem demonstrado pelos mercados mundiais, estou, por meio deste, aumentando a tarifa cobrada da China pelos Estados Unidos da América para 125%, com efeito imediato. Em algum momento, espero que em um futuro próximo, a China perceberá que os dias de explorar os EUA e outros países não são mais sustentáveis nem aceitáveis.
Por outro lado, e considerando o fato de que mais de 75 países entraram em contato com representantes dos Estados Unidos — incluindo os Departamentos de Comércio, Tesouro e o USTR [Escritório do Representante de Comércio dos EUA] — para negociar uma solução sobre os temas em discussão relativos a comércio, barreiras comerciais, tarifas, manipulação cambial e tarifas não monetárias, e que esses países, seguindo minha firme recomendação, não retaliaram de nenhuma forma contra os Estados Unidos, autorizei uma pausa de 90 dias e uma tarifa recíproca substancialmente reduzida, de 10%, durante esse período, também com efeito imediato.
Obrigado pela atenção a este assunto!”
Helena Schuster/Folhapress