Depois de liderar a maior derrota do governo Lula no Congresso em 2024, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), sinalizou nesta quinta-feira (27) que pretende buscar uma reaproximação com o Palácio do Planalto. Segundo ministros ouvidos pela reportagem, o parlamentar avisou que ligará para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o objetivo de suavizar o clima de tensão que se instalou após a derrubada dos decretos que aumentavam o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
A derrota imposta ao governo compromete diretamente o plano de ajuste fiscal da equipe econômica e representa uma perda estimada em R$ 10 bilhões na arrecadação federal, de acordo com o Ministério da Fazenda.
Hugo Motta tenta reaproximação após crise com Planalto
Interlocutores de Lula relatam que Hugo Motta, apesar de não ter informado uma data exata para a ligação, demonstrou intenção de pacificar a relação entre os Poderes. O gesto ocorre no momento em que o parlamentar vive o seu pior momento de tensão com o governo.
Leia mais sobre
- Punhalada do Congresso no Governo: o caso do IOF
- Crise fiscal à vista: especialistas alertam para risco de “apagão” se governo e Congresso não ajustarem despesas
- Câmara derruba decretos do IOF e impõe nova derrota fiscal ao Planalto; governo ameaça acionar STF
- Crise do IOF : Motta atropela o Planalto e põe governo na defensiva
Ainda na quarta-feira (26), como revelou a colunista Renata Agostini, Motta ignorou chamadas do ministro Fernando Haddad (Fazenda) e evitou atender ligações da ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais). Contudo, conversou com outros integrantes do governo, aos quais teria garantido não ter intenção de romper com o Executivo — mas sim, de sinalizar descontentamentos acumulados.
Surpresa no Planalto: IOF derrubado sem aviso
A votação do projeto que sustou o decreto do IOF foi anunciada por Motta às 23h35 da terça-feira (25), em publicação nas redes sociais, surpreendendo o Palácio do Planalto. O movimento deixou a base governista sem tempo de articular uma reação ou costurar um novo acordo. Até então, a expectativa do governo era de que o tema só voltaria à pauta após o recesso parlamentar.
Em suas falas mais recentes, Hugo Motta argumentou que a derrubada do aumento do IOF representou uma “construção suprapartidária”, com apoio de diversas bancadas — e não uma ofensiva direta contra o presidente Lula.
Ainda assim, o gesto foi lido como um recado direto ao Planalto, em meio às crescentes insatisfações de deputados com o governo, especialmente pela demora no pagamento de emendas parlamentares e pela percepção de que o Executivo tem centralizado decisões sem dialogar com o Congresso.
Lula deve anunciar programa habitacional em SP
Enquanto a crise institucional se desenrola, Lula cumprirá agenda oficial nesta quinta-feira em São Paulo. O presidente embarca ainda durante a tarde para participar do lançamento de um novo programa habitacional na Favela do Moinho, reforçando sua estratégia de comunicação direta com as camadas mais populares do eleitorado.
Internamente, o governo ainda discute se buscará uma saída política para recompor a articulação ou se adotará uma postura mais firme diante do Congresso. Integrantes do governo temem que a derrota no IOF abra caminho para novas investidas contra medidas econômicas da gestão petista.
