Arena da Amazônia: luxo, concreto e promessa eterna

Por JG 

Inaugurada em março de 2014, às vésperas da Copa do Mundo, a Arena da Amazônia foi projetada para ser o símbolo do Amazonas no maior evento esportivo do planeta. Com capacidade para 44 mil pessoas e arquitetura inspirada em uma “cesta indígena”, o estádio ergueu-se no antigo terreno do Vivaldão ao custo de mais de R$ 700 milhões – e uma avalanche de críticas.

A obra, que começou no governo Eduardo Braga (MDB) e foi finalizada por Omar Aziz (PSD), prometia ser o marco do desenvolvimento esportivo e cultural do estado. No entanto, passados mais de dez anos, a Arena virou um símbolo de desperdício de dinheiro público e de descaso com o esporte local.

O futebol amazonense, há décadas fragilizado, não conseguiu acompanhar o tamanho da estrutura. Sem clubes de expressão nacional, com torcida reduzida e poucos jogos relevantes, o estádio se tornou um “elefante branco” no coração de Manaus. Ainda que receba shows esporádicos, provas do Enem e partidas isoladas, a manutenção continua cara: estima-se um custo médio de R$ 600 mil por mês.

Mas a Arena não é apenas uma herança de concreto. É também uma peça recorrente no xadrez político local. Eduardo Braga, senador e ex-governador, ainda hoje tenta vincular seu nome à grandiosidade da obra, apresentando-a como um símbolo de modernidade e visão de futuro. No entanto, para boa parte da população, o estádio representa um erro de cálculo – ou pior, um cálculo político.

A cada eleição, surgem ideias para reaproveitar o espaço: transformar em centro multiuso, abrir para a comunidade, atrair times de fora, usar como centro cultural. Promessas recicladas que raramente saem do papel. A Arena virou palanque, não arena.

Enquanto isso, o esporte de base segue abandonado, os clubes locais sem apoio e a juventude sem espaço para treinar ou competir. A Arena da Amazônia, que deveria ser um motor de desenvolvimento, virou cenário de solenidades vazias e discurso de ocasião.

É hora de parar de romantizar uma obra que falhou no principal: servir à população. Porque estádio bonito não ganha jogo – nem eleição.