“Tu acha que dá?”, perguntou Jair Bolsonaro, lá em novembro do ano passado, para seu coordenador político e já indicado chefe da Casa Civil da Presidência da República.
“Dá!” – respondeu Onyx Lorenzoni. Para vencer a desconfiança de Jair Bolsonaro quanto às possibilidades do senador jovem amapaense Davi Alcolumbre chegar à presidência do Senado Federal e do Congresso Nacional, Onyx Lorenzoni argumentou que a situação se parecia muito com a da campanha presidencial, na qual o presidente eleito no começo era desacreditado por todos.
Onyx Lorenzoni esclareceu Jair Bolsonaro: “Conversei antes com vários senadores. Como o adversário era muito esperto, eles temiam por o peito na água muito cedo. Quando falei com Davi, ele se mostrou disposto e ainda tinha a particularidade de ser o único membro remanescente da Mesa Diretora”. Onyx Lorenzoni ainda acrescentou: “Escolhi David Alcolumbre porque é um mestre nas relações, transita em todos os grupos. E tem uma capacidade de trabalho imensa, é incansável. Ele trabalha 20 horas, visitou 19 Estados”.
Onyx Lorenzoni avaliou ainda o peso político da nova composição do Senado, com 46 novos integrantes, que, logicamente, defenderiam um candidato anti-Renan. “Tínhamos de saída uns 30 votos”, lembra. “O simbolismo que Renan carrega é o da velha política e nós sabíamos que ele faria do Senado um bastião de resistência, em parceria com o PT, contra as mudanças que o País precisa.”
Onyx avalia que a derrota de Renan Calheiros marca o fim de um ciclo. “A perspectiva agora é muito melhor. Sabemos que vai ser difícil, mas teremos um Senado em sintonia com a sociedade. Quem está na vida pública tem a obrigação de ouvir as ruas”.
Comentário do jornalista Vitor Vieira – Alguns dias são melhores do que outros. Alguns dias a gente está mais deprimido, outros dias mais eufórico. Este dia 2 de fevereiro, dia de Iemanjá, o Brasil tem tudo para festejar um sábado histórico, de muita alegria. Depois de 48 horas de aflição, terminou a eleição no Senado Federal, com a eleição do senador Davi Alcolumbre, do Democratas, para a presidência da Casa. Ele presidirá também o Congresso Nacional.
Com a sua vitória foi removida da cena a velha oligarquia emedebista, sucessora da Arena, que comandava o Senado Federal desde a restauração do Estado Democrático de Direito no País, a partir de 1985. Vejam bem, foram 33 anos de domínio praticamente ininterrupto. O MDB, com os Sarneys, Lobões, Barbalhos, Calheiros e outros da mesma estirpe, deram as cartas por todo esse tempo. E tudo o que fez a oligarquia emedebista foi atrasar o Brasil, empatar a vida dos brasileiros, promover a corrupção, a degradação da vida pública, a degeneração dos costumes, a devassidão, a ladroagem e coisas similares. Tudo que é de ruim pode, sim, ser atribuído ao MDB e seus líderes.
Os eleitores brasileiros, em outubro do ano passado, deram um poderoso recado nas urnas, promovendo uma vassourada histórica no Congresso Nacional. Câmara dos Deputados e Senado Federal foram renovados em mais da metade. Hoje, os eleitores controlam seus representantes de cima, o tempo inteiro, fiscalizando pelas redes sociais, e exigindo que cumpram seus compromissos. Foi o resultado dessa fiscalização da sociedade brasileira que promoveu neste sábado o enterro da oligarquia emedebista e associados comandada pelo cangaceiro alagoano Renan Calheiros. Agora se espera que ele respondas aos 14 inquéritos e que seja condenado como tantos outros da Lava Jato.
O processo no Senado Federal não foi nada fácil, porque não se conhece caso de oligarca, de grande mamador de tetas públicas, que se entregue facilmente, sem grande luta, antes de se desapegar do poder. É preciso agora ressaltar o papel desempenhado por alguns personagens nesse processo. O senador gaúcho Lasier Martins teve um notável comportamento, contestando no Supremo o voto fechado defendido com unhas e dentes pelo oligarca Renan Calheiros, porque ele sabia que dependia do segredo da urna, onde os vagabundos corruptos se protegem, para conseguir ganhar a presidência do Senado Federal pela quarta vez.
Vários senadores foram fundamentais na defesa da demonstração do voto, tornando-o público, mesmo quando o Supremo, agindo de maneira completamente golpista, por meio de seu presidente, Dias Toffoli, restabeleceu o voto secreto. Mas, antes disso, jogou bem o presidente Jair Bolsonaro. Disse que estava afastado do jogo pela presidência so Senado Federal, que isso era de inteira responsabilidade dos senadores. Mas, permitiu que seu chefe da Casa Civil, deputado federal gaúcho Onyx Lorenzoni, mexesse os pauzinhos desde novembro na construção do seu candidato, Davi Alcolumbre, que já estava escolhido, sem nunca oficializar a sua candidatura, senão na última hora. Mas, sempre deixando entrever, com toda clareza, que era o candidato da predileção da Casa Civil.
A estratégia se revelou correta. A análise política, conjuntural, feita por Onyx Lorenzoni, foi acertada e funcionou. Agora isso será de fundamental importância para a condução dos assuntos de interesse do governo de Jair Bolsonaro no Congresso Nacional. Ficam abertos os caminhos.
Davi Alcolumbre, na condução da sessão do dia 1º de fevereiro, sexta-feira, portou-se muito bem, de maneira firme, demonstrando capacidade para enfrentar a tropa de choque do cangaceiro Renan Calheiros. Despontou nessa tropa de choque a senadora jagunça goiana Katia Abreu, que promoveu cenas patéticas, com roubo de documentos da mesa para impedir a continuidade dos trabalhos. Iniciativa que ela aprendeu, com certeza, com suas amigas petistas e comunistas, Gleisi Hoffmann e Vanessa Graziotin, já enxotadas do Senado Federal.
A peça de resistência da velha oligarquia tinha que se apresentar, no último minuto, com uma insólita tentativa de fraude da votação. Inacreditável, à vista do mundo inteiro, com transmissão ao vivo pela televisão e pela Internet, colocaram voto a mais na urna, em favor do cangaceiro Renan Calheiros, é óbvio.
Anulada a primeira eleição, e começando uma segunda, diante das evidências de derrota, o velho cangaceiro Renan Calheiros retirou a sua candidatura. Saiu atirando a esmo, contra o PSDB, contra Flávio Bolsonaro, contra Davi Alcolumbre, contra Onyx Lorenzoni. Decididamente, ele perdeu a cobertura política que lutava desesperadamente para manter, para salvar sua vida da derrocada. Seu caminho é a cadeia. O Brasil está mudando, sim. Passos seguros estão sendo dados nesse sentido. E o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que se reelegeu sem contestação, sabe que agora todos os olhos vigilantes do País se voltam para ele. Não terá mais as ousadias que exibiu durante o breve governo de Michel Temer.