O Vaticano retirou nesta segunda-feira (27) a referência a recorrer à “psiquiatria” quando um pai constata tendências homossexuais em um filho das declarações feitas pelo papa Francisco na véspera, quando estava no avião que o levava da Irlanda para Roma.
A palavra foi retirada da versão oficial da entrevista coletiva dada a bordo do avião papal “para não alterar o pensamento do papa”, explicou à AFP um porta-voz do Vaticano.
“Quando o papa se refere à ‘psiquiatria’, está claro que queria dar um exemplo sobre as diferentes coisas que podem ser feitas”, explicou a espanhola Paloma García Ovejero.
O pontífice não queria dizer que se trata de “uma doença psiquiátrica”, detalhou.
Questionado sobre o que diria aos pais que notarem orientações homossexuais em seu filho, o papa respondeu: “Eu lhes diria, em primeiro lugar, que rezem, que não condenem, que dialoguem, entendam, que deem espaço ao filho ou à filha”, afirmou.
Depois considerou que deveria levar em conta vários aspectos, entre eles a idade e a história pessoal.
“Quando isso se manifesta desde a infância, há muitas coisas a fazer, pela psiquiatria, para ver como são as coisas. É uma outra coisa quando isso se manifesta depois dos 20 anos”, afirmou Jorge Bergoglio.
“Nunca direi que o silêncio é o remédio. Ignorar seu filho ou sua filha com tendências homossexuais é um defeito de paternidade ou maternidade”, declarou.
As declarações do papa geraram rechaço entre as associações de defesa dos homossexuais franceses, que as chamaram de “irresponsáveis” ao tratar a homossexualidade como se fosse uma doença.
Papa fala sobre abuso sexual
A palavra “psiquiatria” foi retirada do “verbatim” publicado hoje pelo serviço de imprensa do Vaticano.
De acordo com o escritório de imprensa do Vaticano, “com essa palavra não quis dizer que era uma doença psiquiátrica, mas que talvez tenha a ver como estão as coisas a nível psicológico”, explicou.
O papa Francisco reconheceu em um livro que teve que buscar a ajuda de um psicoanalista.
Isso ocorreu não quando foi escolhido pontífice, mas no fim da década de 1970, nos piores anos da ditadura argentina e os mais polêmicos de sua biografia.
“Consultei uma psicoanalista judia. Durante seis meses fui para a sua casa uma vez por semana para esclarecer algumas coisas”, contou.
Não é a primeira vez que o Vaticano “retoca” declarações, aparentemente a pedido do próprio pontífice, que costuma falar livremente e de forma espontânea em italiano, um idioma que não é seu.
Segundo a agência do Vaticano I.Media, o serviço de imprensa da Santa Sé retirou em 2013 uma frase completa pronunciada pelo papa argentino.
A frase em questão, sobre o arcebispo salvadorenho Oscar Arnulfo Romero, assassinado em 1980 enquanto realizava uma missa, dizia que ele “merece ser beatificado, mas devemos considerar o contexto”. Assegurou que não correspondia ao seu pensamento nem às decisões tomadas poucos anos depois, já que será canonizado em outubro deste ano.